A jovem, de apenas 14 anos, mostrou-se muito feliz com a experiência e salientou que se tratou de uma "oportunidade única".
“Foi uma oportunidade única de participar num jogo fascinante marcado pela utilização do suporte de vídeo”.
A árbitra da AF Castelo Branco foi entrevistada pela AFCB, e aqui deixamos os sonhos já realizados e os que ainda estão para vir.
Adriana Mendes fala da mudança para o SL Benfica, da gestão de tempo entre o trabalho e os treinos e das ambições que ainda tem na modalidade.
O gosto pelo futebol e pelo futsal começou muito cedo, por influência do pai, e da prática na Escola para a inscrição num clube, foi um pequeno passo. O gosto por Desporto e o bicho da competição levaram-na a federar-se em futsal.
Iniciou o percurso na Casa Benfica de Belmonte, com o irmão mais velho, passando posteriormente para a União Desportiva Cariense. A partir daqui não parou mais e, neste momento, é jogadora da equipa feminina do Sport Lisboa e Benfica.
Nesta segunda parte da conversa com a AFCB, Adriana Mendes fala da mudança para o SL Benfica, da gestão de tempo entre o trabalho e os treinos e das ambições que ainda tem na modalidade.
AFCB: Seguiu-se uma nova aventura, desta feita no SL Benfica. Como surgiu essa mudança e como te sentiste, a nível emocional e profissional?
AM: A nível emocional é fantástico. Ainda hoje, paro e penso: “ok, isto é real”. A verdade é que as condições que temos, estar num sítio que gosto tanto… Já ia ver os jogos do Benfica antes e agora continuo a fazê-lo. O ser atleta e ser adepta é uma sensação brutal. Estar dentro de campo e ser adepta ao mesmo tempo é fantástico. A mudança, em termos de localização, não foi difícil, uma vez que já estava em Lisboa. O mais difícil foi mesmo a pressão externa que se pode sentir por estar ali, a responsabilidade e ter que demonstrar trabalho, ter que cumprir objetivos. Acho que essa é a grande dificuldade na mudança para o SL Benfica. Em termos de pessoas e localização, a adaptação foi fácil, foi mesmo mais a questão competitiva.
AFCB: Sentiste um grande upgrade competitivo quando integraste a equipa?
AM: Sim, não consigo negar. Temos treinos que são mais difíceis que alguns jogos. A equipa, internamente, é muito competitiva, de uma forma saudável, e aprende-se muito mesmo a treinar e são sessões muito intensas. Comparando com as outras equipas por onde passei, esse aspeto é muito mais exigente.
AFCB: Estás a entrar na terceira temporada no SL Benfica e já conquistaste todos os títulos nacionais e agora a Liga dos Campeões Feminina. Quais os objetivos ainda por atingir?
AM: Este ano estamos a caminhar para algo inédito, que é vencer todas as competições em que estamos inseridas. Ganhámos a Supertaça, agora o Torneio Europeu e temos tudo o resto pela frente – Taça da Liga, Campeonato e Taça de Portugal. Para esta época, o objetivo está bem definido: fazer o inédito de conquistar todas as competições. Isso seria um feito brutal. A nível das Seleções, ainda tenho a ambição de, um dia, poder disputar um Europeu ou alguma competição. Ainda quero participar numa competição internacional e ganhá-la, o que também seria algo inédito para Portugal.
AFCB: És licenciada em Solicitadoria. Estás a exercer? Se sim, como consegues conciliar?
AM: Licenciei-me em Solicitadoria e, entretanto, entrei na Ordem dos Solicitadores no início do ano passado. Já tenho a minha cédula de Solicitadora, que foi uma conquista muito feliz para mim e, mais uma vez, percebi que é tudo possível. Desde então trabalho num escritório de Solicitadores. Faço o meu dia-a-dia, das 09h às 17 horas, e tenho treinos todos os dias, exceto à sexta-feira.
No SL Benfica já implementámos um pouco os treinos bi-diários e às vezes é difícil. Já tive de pedir várias coisas no meu trabalho e isso não é fácil. Temos ginásio duas vezes de manhã e raramente consigo fazer nesse horário. Ou vou muito cedo ou então tenho de fazer antes do treino. Tenho de me adaptar um pouco, somos duas ou três na equipa nesta situação e os treinadores compreendem perfeitamente. Só folgamos à sexta-feira, normalmente jogamos ao sábado. Se o jogo for fora, vamos sexta-feira para cima e tenho de pedir para sair mais cedo ou pedir umas tardes… são coisas que estão sempre a acontecer. Agora, no Torneio Europeu, também tive de explicar que a competição durava uma semana e a parte mais difícil e mais dura são as minhas férias. As minhas férias foram o Torneio Europeu. E tive o Natal e o dia da Passagem de Ano e não posso pedir mais do que estes dias que já tive.
No aspeto do descanso é o mais difícil e é o que falo com os meus pais e com os amigos mais próximos: precisava de mais tempo para respirar e para descansar. Ainda assim, vejo o Futsal como uma distração tão boa, como um hobby, estamos num sítio com pessoas que gostamos, em que não pensamos no dia-a-dia e isso acaba por ser muito bom na mesma. Consegue-se gerir sim, tem uma parte cansativa, mas tem uma parte muito saudável: enquanto estamos ali desligamos de tudo o resto e vice-versa. Consigo fazer tudo, não há problema nenhum, é só um esforço extra.
AFCB: Tem de existir uma grande flexibilidade, principalmente do trabalho, para conseguir conciliar tudo…
AM: Isso, às vezes, é o mais difícil. O clube não tem grande problema, porque nunca deixei de fazer nada lá. Acho que a parte da minha entidade patronal é mais difícil do que propriamente o SL Benfica. Tento sempre que seja um 50-50, mas a verdade é que não falto a um jogo ou a um treino, por exemplo, isso nunca acontece. E falto a uma tarde ou um dia no meu trabalho. Portanto, acho que nesse aspeto fica mais prejudicado, mas ainda assim faço aquilo que sinto e pretendo fazer e conto com uma patroa que me ajuda e é muito simpática e consegue compreender estas situações.
Também estou numa área em que sou profissional liberal e as coisas são um pouco diferentes a nível contratual. Se tivesse um trabalho de Função Pública, com um horário fixo das 09:30 às 18:30, não tinha hipótese de sair mais cedo ou estar sempre a pedir. É diferente, ali tenho uma relação muito mais pessoal. O contexto é diferente.
AFCB: Como vês a evolução do desporto feminino e, principalmente, do Futsal?
AM: A evolução do desporto feminino, em geral, acho que está num bom caminho, tem sido bastante positiva. Temos cada vez mais incentivos, cada vez mais raparigas a querer praticar várias modalidades. Inserindo o Futsal nesta evolução, também acho que progrediu bastante, a nível das competições, da promoção, da divulgação.
Temos muito mais condições nesses aspetos, mas também não podemos negar que a evolução do Futebol Feminino, que está ao lado do Futsal, tem sido muito maior e isso faz com que tenhamos muitas miúdas, que se calhar até gostam de Futsal, mas optam pelo Futebol, porque tem outras condições. Isso é uma batalha interna que a FPF tem que ter, ao longo do tempo, para conseguir equilibrar um pouco as coisas e não deixar que o Futsal perda competitividade. O que gostamos é de jogos competitivos, que haja mais equipas a lutar pelos pódios e que seja tudo mais difícil.
AFCB: Sentes que és um exemplo e uma referência no distrito para as meninas que querem seguir o Futsal?
AM: Sinceramente, não penso muito nisso. Fico feliz se puder ser um exemplo para algumas meninas do distrito, no sentido de perceberem que é possível chegar a qualquer tipo de patamar, que é possível chegar ao topo, que não há aqui nenhuma barreira. Nesse aspeto, sinto-me muito feliz. Em relação ao resto, como alterar a minha postura, penso que sou mais despreocupada, no bom sentido. Sou muito natural, não penso nisso. Se for um exemplo fico muito feliz, mas acima de tudo, que a mensagem seja que não há barreiras e tudo é possível.
AFCB: Qual a tua referência na modalidade quando eras mais nova?
AM: Sempre tive duas referências: o Ricardinho e o Merlim. Sempre gostei muito do Ricardinho, por todo o sucesso e porque comecei a ver Futsal no seu auge e sempre me encantou desportivamente. Mais tarde, gostei muito do estilo de jogo do Merlim, assim como do Dyego Zuffo, do FC Barcelona. O Ricardinho mais pelo apaixonar da modalidade e estes dois últimos mais pelo que fazem dentro de campo e pela forma como jogam.
AFCB: Que mensagem gostava de deixar para as meninas que te seguem e querem também fazer carreira no Futsal?
AM: A mensagem, tal como já referi, é nunca desistir. Tentem sempre equilibrar o vosso dia-a-dia, a vossa rotina, seja na escola ou no trabalho, mas se gostam de jogar, não deixem e tentem levar aquilo mais ou menos a sério. É importante divertir-nos e temos de nos divertir, senão não faz sentido, mas a parte competitiva é tão boa, quando se consegue levar de uma forma saudável e quando se gosta de competir. Divirtam-se, saibam competir, queiram competir e vão perceber que isso abre muitas portas e que os vossos limites vão desaparecendo gradualmente. É tudo muito natural. Façam sempre aquilo que vos der mais prazer.